Entrevista professor Domingos Anselmo Moura da Silva

“A criança precisa perceber que a matemática faz parte do seu dia a dia”

Sim, ele já passou pela palmatória, mas nem isso foi suficiente para desestimular sua paixão pela Matemática. Defensor dos materiais mediadores no ensino da Matemática como o material Dourado e o Ábaco, o professor Domingos Anselmo Moura da Silva, Supervisor da Alfabetização Matemática do PNAIC (Programa Nacional pela Alfabetização na Idade Certa) que no Amazonas é mediado pelo CEFORT, faz uma ressalva: o material por si só não segura o interesse dos pequenos. É ele, o professor do Ensino Fundamental quem vai fazer a diferença no chão da escola. E mais: não existe uma fórmula mágica a ser lançada pela escola; o envolvimento da família em brincadeiras em que as primeiras contagens possam ser aplicadas é apenas um dos caminhos para que os pequenos percebam que ela, a Matemática, em vez de ser temida, é uma forte aliada para a compreensão da vida. Confira a entrevista:

PNAIC:Num passado bem recente as crianças aprendiam matemática partindo de ideias abstratas. Atualmente, o ábaco, o material dourado e outros são utilizados com frequência nas escolas. Como o senhor avalia o uso desses mediadores no ensino da matemática hoje?

Anselmo Moura: Minha avaliação pessoal do uso desses mediadores no ensino da matemática é positiva, desde que o professor saiba utilizar tais recursos didáticos. E para corroborar minha resposta, farei uso de um trecho da reportagem do professor Luiz Márcio Imenes para a Revista “Cálculo –Matemática para todos” edição número 48 edição de janeiro deste ano, onde ele diz: nas mãos de um professor que compreende bem as ideias matemáticas qualquer material didático funciona, “até chiclete mastigado”. Da mesma forma, nas mãos de um professor que compreende mal as ideias matemáticas, por melhor que o material seja os avanços são tímidos.

PNAIC:Palmatória, ridicularizações e constrangimentos na hora da tabuada fazem parte da história de infância de muitos professores. Daí pensamos: esse professor pode ter desenvolvido resistência à Matemática? Como ele pode se superar e estimular seus alunos?

Anselmo Moura: É provável que alguns professores possam ter desenvolvido certa resistência à Matemática entre outras coisas. Infelizmente eu também passei pela palmatória, tenho os meus traumas como todo mundo da época, porém eles foram trabalhados e eu me tornei um amante da Matemática. Minha superação se deu através da vontade de aprender Matemática para tornar a mesma acessível a todos.

PNAIC:Há formas mais eficientes para fazer uma criança se interessar pela Matemática?

Anselmo Moura: Acredito sinceramente que não existe uma fórmula mágica para que uma criança possa vir a se interessar pela Matemática. O que existe é todo um trabalho, que começa com a família, no convívio com outras pessoas, nas brincadeiras de crianças, onde elas começam a ser estimuladas a ser criativas, a fazer uso das primeiras contagens, a perceber que a Matemática faz parte do seu dia a dia, isto é, a Matemática é importante na sua vida. E chegando a escola esta criança deve ser estimulada a vivenciar esta Matemática de vida na visão da Matemática escolarizada. Mas em nenhum momento esta Matemática que eu estou chamando de escolarizada pode perder o sentido na sua vida desta criança.

PNAIC:O professor Imenes nesta revista a qual o senhor se referiu no início da entrevista, alerta que professores de Matemática no Ensino Fundamental estão tentando passar ideias complicadas para crianças pequenas. Se não teve treinamento técnico de ótima qualidade, é possível que ao lançar mão do material dourado, por exemplo, esse professor acabe ensinando conceitos errados que mais tarde dificultam a vida escolar desses alunos. Como o senhor avalia essa situação?

Anselmo Moura: Eu tive a oportunidade de ler esta entrevista dada pelo professor Luiz Márcio Imenes para a revista “Cálculo –Matemática para todos”. Quanto à pergunta feita, eu concordo plenamente a análise do professor. Inclusive quero destacar uma passagem da reportagem do professor Imenes, quando ele diz que “O material dourado pode ser usado de modo adequado ou inadequado. Não precisamos jogá-lo fora. “Basta que joguemos fora o modo inadequado de usá-lo”, isto é, precisamos de professores mais qualificados no que se diz respeito ao Ensino da Matemática.

PNAIC:O uso de palitos coloridos, tampinhas de garrafa e outros objetos não pode provocar na criança uma reação negativa quando tiver de resolver um problema contando apenas com um livro comum (letras e símbolos pretos, numa página branca) e lápis preto ?

Anselmo Moura: Não podemos esperar que todos os alunos possam aprender Matemática somente com lápis preto e papel. É claro que vamos encontrar alunos que conseguem aprender desta forma. Porém, a maioria das nossas crianças nos dias de hoje precisa num primeiro instante, de recursos metodológicos para que, em seguida, possamos generalizar os conceitos já adquiridos no concreto. Sendo assim, não vejo o uso do material concreto como um fator complicador da Matemática quando a criança tiver que usar livro comum e lápis preto. Como já foi dito pelo professor Luiz Márcio Imenes, nas mãos de um professor que compreende bem as ideias matemáticas qualquer material didático funciona.

PNAIC:Como o senhor analisa o uso da calculadora na sala de aula?

Anselmo Moura: A diferença entre o remédio e o veneno é a dosagem, isto é, o professor deve saber a hora certa da utilização da calculadora, do computador, do telefone celular e dos demais recursos multimídias disponíveis em sua sala de aula para obter os resultados desejados dentro do seu planejamento.

PNAIC:A Alfabetização Matemática é entendida como um instrumento para a leitura do mundo, em uma perspectiva que supera a simples decodificação dos números e a resolução das quatro operações básicas. Como essa proposta da Alfabetização Matemática do PNAIC, uma iniciativa do MEC em parceria com secretarias de educação do Estado e do município, intermediada pelo CEFORT, está sendo desenvolvida no Amazonas?

Anselmo Moura: Sendo eu das área das Ciências Exatas, minha resposta para esta pergunta é: Está se desenvolvendo com uma excelente qualidade no nosso Estado. No meu ponto de vista, o PNAIC É O PROGRAMA.

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