Professores indígenas

PNAIC auxilia a busca pela preservação das línguas

A valorização dos conhecimentos tradicionais a partir do fortalecimento da língua. Para os sete professores formadores indígenas que participam do modulo Linguagem, do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), que acontece na Faculdade de Estudos Sociais (FES), o programa está funcionando neste primeiro momento para se pensar em novas metodologias para o ensino da língua materna. Os professores formadores, das etnias, tikuna, baniwa, dessana e tukano, participam pela primeira vez do PNAIC, já que a adesão dos seus municípios, São Paulo de Olivença e São Gabriel da Cachoeira respectivamente, aconteceu no início deste ano.

João Clemente Gaspar, da etnia tikuna, explica que a alfabetização das crianças indígenas se dá primeiro, na língua materna, quando as crianças aprendem por meio de símbolos, ilustrações, gestos e formas lúdicas para facilitar a aprendizagem. Só depois começam a ser alfabetizadas na língua portuguesa.

“Trabalho com alfabetização na língua tikuna há dezoito anos e a minha preocupação, assim como a dos demais, é criar uma metodologia para alfabetizar as crianças em sua língua materna, considerando as singularidades de cada etnia. O PNAIC está ajudando nesse trabalho”.

A professora baniwa Madalena Custódio Paiva, que trabalha no município de São Gabriel da Cachoeira, explica que a sua realidade é parecida com a de outros municípios, com um componente: a diversidade étnica. “Temos praticamente 23 povos indígenas, com diferentes etnias e diferentes línguas. A gente precisa aprender a respeitar essa diversidade. E na sala de aula com as crianças você percebe que algumas aprendem mais rápido que outras. O nosso trabalho é adequar o ensino de acordo com o ritmo de cada um”.

No caso do alto Rio Negro, existem situações em que na mesma comunidade há três línguas diferentes, daí o professor precisa ver em qual língua as famílias querem que suas crianças sejam alfabetizadas.

 “Não podemos ir contra os pais das crianças. Então é necessário ouvir a opinião da maioria. Se tem lá nheengatu, baniwa e tukano em qual língua essa criança vai ser alfabetizada? É preciso ter esse respeito”, reforça a professora.

A tikuna Luciana da Silva é professora há 12 anos salienta que a criança já tem um conhecimento prévio a partir de sua vivência, e o professor enquanto mediador precisa aproveitar essa vivência para desenvolver um bom trabalho na escola.

“Com certeza a criança vai aprender com mais facilidade a sua língua materna e a língua portuguesa. É um desafio grande para o professor que com certeza vai conseguir trabalhar de forma lúdica e bem criativa com a criança indígena”.

Autonomia é a palavra que o professor kotira (wanano) Maicon Samoni Melo, usou ao considerar os futuros  benefícios do PNAIC em seu município: “Eu to achando muito bom porque esse programa nos dá uma base teórica. Eu queria muito chegar a um ponto de poder dizer: essa metodologia é tukana, essa é baniwa, é isso que á faltando, essa autonomia. Mas já temos as bases aqui”.

Preocupação

A língua é uma forma de resistência, de preservar costumes e tradições. A preocupação de Madalena Custódio Paiva caminha nessa direção: preservar a língua. Ela explica que no núcleo urbano  de São Gabriel da Cachoeira há três língua fortes: baniwa, tukano e nheengatu. Algumas escolas já adotaram o ensino-aprendizagem dessas três em sua metodologia. “Mas se considerarmos que existem 23 povos indígenas no Alto Rio Negro com culturas diferenciadas, nossa responsabilidade aumenta. Ao escolhermos uma determinada língua corremos o risco de deixar que as demais desapareçam. Quando alfabetizamos em uma determinada língua, a criança de uma etnia diferente pode achar que só aquela que o professor está ensinando é que deve prevalecer sobre a sua. Aquela que ela fala diariamente, não tem valor. Sim, ela pode pensar isso. Daí a nossa responsabilidade”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Links úteis